03⠀⠀REFACE – DEEPFAKE & INTERAÇÕES

Olá, caro leitor! Esse texto é o registro de um processo de pesquisa para o trabalho de avaliação da disciplina que fundamenta a existência desse blog. Aqui, irei depositar meus pensamentos e reflexões sobre o projeto que escolhi como objeto de estudo: o aplicativo "Reface". Acabou que eu fui até o fim dessa análise e antecipei tópicos da avaliação. Grande parte desse texto era pra estar presente no post de número "04" desse blog, mas vamo lá, haha! 

Canal Josmi, do YouTube, analisando o aplicativo Reface.

O Reface é um aplicativo que utiliza a tecnologia deep fake para gerar vídeos ou gifs de pessoas famosas com o seu rosto no lugar do rosto dessas celebridades originais. No entanto, para entender o que isso significa, precisamos primeiro discutir sobre o que é Deep Fake!

O termo deepfake apareceu em dezembro de 2017, quando um usuário do Reddit com esse nome começou a postar vídeos de sexo falsos com famosas. Com softwares de deep learning, ele aplicava os rostos que queria a clipes já existentes. Os casos mais populares foram os das atrizes Gal Gadot e Emma Watson. A expressão deepfake logo passou a ser usada para indicar uma variedade de vídeos editados com machine learning e outras capacidades da IA.
– Trecho retirado do post "O que é deepfake? Inteligência artificial é usada pra fazer vídeo falso" de Isabela Cabral, no TechTudo

Hoje em dia, a tecnologia de deepfake tem se espalhado muito como uma ferramenta de entretenimento. Em grande parte, esse sucesso se dá porque ela proporciona uma visão muito surpreendente: ver o seu rosto estampado em cenas icônicas do cinema, música, televisão e afins.

Por conta disso, escolhi o projeto do aplicativo REFACE e sua relação com o sentido da VISÃO. Irei encarar esse aplicativo, portanto, pelo viés de um projeto de design, com todas as atribuições conceituais, sociais e práticas que o envolvem, e irei analisá-lo pelo viés da usabilidade e da semiótica.


1. Um app enquanto projeto de design

A habilitação de Design de Mídias Digitais na PUC-Rio é, dentre várias coisas, muito complexa. O próprio nome já nos levanta questões como "o que é digital?', "o que é midia?" e, obviamente, "o que é design?". Felizmente, depois de cinco semestres completos que fiz nesse curso, posso responder parte dessas perguntas com certa segurança:

"The medium is the message"

Essa essência vai levar consigo, conscientemente ou não, ideologias. Por exemplo: se eu quero falar algo em um canal de YouTube, a própria mídia (que, no caso, é a plataforma YouTube) irá corroborar para que eu tenha uma linguagem específica na minha mensagem: "Se inscreve no meu canal!", "Dá like nesse vídeo!", "Curte e compartilha!".

Mídia é um conceito complexo que passa por diversos significados. No entanto, em resumo, gosto de utilizar a frase acima destacada que foi criada pelo filósofo canadense Mrshal McLuhan, cuja tradução é: "O meio é a mensagem". Ele escreveu essa frase no seu famigerado livro "Understanding Media: The Extensions of Man". Para ele, mídia é todo e qualquer arcabouço que permite a veiculação de uma mensagem, ou seja, o veículo, o meio. Mídia é, portanto, na minha visão, o termo guarda-chuva que se refere a essência inerente a transmissão de alguma mensagem.

Dessa mesma forma, a divulgação desse vídeo dentro daquela mídia está sujeita ao algoritmo desenvolvido pela Google, empresa mãe do YouTube. Muito tem se discutido sobre o viés oculto desses algoritmos, como foi o recente caso do "algoritmo racista do Twitter". E é sobre isso que eu falo quando digo que existem ideologias inerentes à essa mídia.

No caso do Reface app, a ideologia do aplicativo é explicitada pela montagem de vários vídeos de algumas celebridades. A plataforma se baseia primordialmente nessa imagem que as celebridades criaram de si e como isso é um produto no mercado capitalista de forma geral. Assim que você abre o aplicativo, a página inicial já mostra as vídeo-montagens que mais estão bombando naquele referente dia.

Página inicial do Reface, cuja imagem central é o Felipe Neto.

Por se utilizar da imagem criada pelas celebridades, podemos falar que o Reface, enquanto um projeto de design, faz uso da publicidade e propaganda que circundam essas figuras, utilizando do imaginário delas para conseguir atribuir valor ao seu próprio aplicativo. Vale aqui citar, portanto, o canal "O Algoritmo da Imagem" da Senhorita Bira. Esse canal se propõe a analisar semioticamente figuras públicas e os símbolos que elas representam, com destaque a figura da "celebridade" que é tópico central do vídeo exposto a seguir:

A imagem de um mito" do canal "O Algoritmo da Imagem"

2. Um aplicativo que usa tecnologia de deepfake

O deepfake é, de nascença, relacionado ao uso indiscriminado do rosto de pessoas famosas – como visto no texto da Isabela Cabral do Techtudo. No entanto, discutir a moralidade por trás dessa apropriação é um assunto que tangencia o objetivo dessa aula sendo, portanto, algo que irei evitar de falar. Superando essa questão, irei analisar o aplicativo enquanto uma forma de entretenimento que se utiliza de uma tecnologia.

Para tanto, utilize o aplicativo para fins de teste e constatei uma coisa: ele é muito divertido! Os vídeos gerados realmente são engraçados e geram uma surpresa cômica que dá vontade de mostrar para todo mundo. No entanto, a experiência oferecida ainda carece de aperfeiçoamentos que poderiam levar a marca para outro patamar de interatividade.

A princípio, não é preciso fazer loguin e nem nada muito complexo para começar a utilizar o app, o que é muito positivo. A navegação parece simples e sem muito ruído visual. Assim que você faz o primeiro vídeo com deep fake, você já entende como fazer todos os outros. No entanto, a partir do segundo vídeo você já dá de cara com uma escolha dos desenvolvedores do projeto: a monetização via anúncios.

O anúncio em vídeo aparece, do nada, na sua tela, sem nenhum aviso prévio. O intervalo obrigatório para pulá-lo é de 5 segundos, o que é pouco em comparação aos da maioria dos outros apps da loja. E toda vez que você vai fazer um novo vídeo, um novo anúncio aparece. Esse ciclo se extende até um número determinado de vídeos, quando o aplicativo bloqueia que o usuário volte a gerar novos vídeos por até meia hora.

A partir daqui, existem duas formas de voltar a utilizar o app: comprando a versão "PRO" – que custa R$ 9,99 o mês ou R$ 99,99 ao ano – ou aguardando por 30 minutos.

À esquerda, printscreen da tela exibida quando o usuário escolhe adquirir a versão PRO do aplicativo; À direita, printscreen da tela exibida quando o usuário atingiu o limite de vídeos gratuitos.

Aqui vem a minha primeira crítica ao partido adotado por eles no aspecto da monetização. Os desenvolvedores poderiam, muito bem, fazer os anúncios de 5 segundos irem aumentando em tempo conforme o usuário fosse utilizando mais e mais vídeos. A limitação de 30 minutos quebra completamente o uso flúido e repetido do app, e isso tira dele a oportunidade de ser algo muito mais intensamente utilizado.

Além disso, não existe no app uma forma de interagir com os vídeos deepfake gerados pelas outras pessoas. A única forma de ter acesso a esse conteúdo é recebendo ele de outro usuário que te enviou por meio de outra plataforma. 
Portanto, enxergo essas lacunas como duas oportunidade desperdiçadas e as aproveitaria conforme já descrevi anterior.

A. Monetização via anúncios mal aproveitada;
B. Interação com os vídeos gerados por outros usuários.

É isto, caro leitor. Muito obrigado pela sua atenção. Aceito todo tipo de críticas e sugestões nos comentários abaixo. Até o próximo post! 😊

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